sábado, 8 de janeiro de 2022

Midsommar - O Mal Não Espera a Noite

 


Apesar do contexto de criar um filme de terror que se passa todo durante o dia, tinha tudo pra ser mais um filme clichê, mas aqui a experiência é bem surpreendente.

A narrativa decorre sobre lutos, traumas e emancipação. Midsommar carrega diversos símbolos que além de prender a atenção nos faz emergir na trama que conta a história de Dani uma menina que acabou de perder os pais e vive um relacionamento toxico com seu namorado. 

Fragilizada a moça embarca numa viagem para uma aldeia, com o namorado e uns amigos afim de celebrar e conhece seus rituais pagãos. Mas o que parecia uma alternativa de fugir do luto e se aproximar de seu namorado passa a ser uma intensa jornada de autoconhecimento e libertação. 

O longa deixa desde o início, aos olhares mais atentos, pistas do que está por vir. Aos poucos vamos embarcando na narrativa de cada personagem e percebendo que coisas estranhas estão acontecendo. É tudo bastante desconfortável e perturbador, o que propositalmente causa a vontade de entender o que está acontecendo naquele vilarejo. 

Algumas cenas são bem marcantes, como a cena do choro coletivo. Percebe se que mesmo com toda bizarrice daquele lugar, Dani se sente acolhida por aquelas pessoas, quando elas a imitam em sua dor.  

Entendendo que Dani precisava sair do estado de passividade em que permitia que seu namorado dominasse a relação, a protagonista começa a se sentir parte daquela comunidade e se fortalecer com o “apoio” deles. Mostrando a importância da empatia e solidariedade na vida das pessoas. 

Outro fato interessante na trama é como toda a vida daquelas pessoas giram em torno dos rituais que eles realizam a cada 90 anos, que simbolicamente indica um ciclo de vida. Pois ao envelhecer os anciões passam a ter uma missão importante para que o novo ciclo se reinicie. Ritos de fertilidade, amor e prosperidade. É como se o folclore sustentasse as suas principais fontes de sobrevivência.

Midsommar é uma história que vale a pena ver e refletir sobre ela. O thriller psicológico certamente vai te proporcionar mais do que somente sustos, mas a uma experiência bem profunda e significativa.

 


Nota 10/10

Disponível na amazon

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Maid



 A gente precisa falar sobre a minissérie Maid. 

A história baseada nas memórias de Stephanie Land é nada mais do que a história de milhares. 

Entre tantas a minha. Eu tenho até uma impressão que todas nós vivemos em um msm enredo. Uma menina (nova e imatura) que se tornou mãe e logo como uma boa parte de meninas que se tornam mãe, solo.

A personagem da série vive em busca do que é melhor pra ela e pra filha. Num jogo insano e sádico da vida que a faz lutar por diretos que são dela, mas que nao chega a ela. Alex ( personagem) luta pela sobrevivência. E ao longo do caminho se reencontra e descobre o caminho que deve seguir. 

Todas as cenas são de uma delicadeza inenarrável. Acredito que em pessoas que infelizmente passaram pela msm experiência sintam em cada cena o acolhimento e a dor. 
Parece que é a nossa história, que somos nós contando. Ao msm passo que resgata lembranças que a gente guardou e não é fácil de trazer de volta. 

Por isso, recomendo que aos sensíveis com o tema, a veja aos poucos, pra ir absorvendo a real mensagem. Que pra mim é exatamente essa, o resgate dessa memória que a gente quer fingir que não existe, pra lembrar do quão potente é nossas escolhas. Pra lembrar do quão necessário é a gentes entender o que estamos vivendo e decidir onde querermos estar.

Maid, reforça o diálogo entre o que eu aprendi a aceitar e o que eu não devo aceitar. Reforça a ideia de que sim, é difícil, as vezes parece impossível, que parece estamos completamente sozinhas e que não há solução, mas a gente sabe que desistir não é uma opção.

Maid, mostra como apesar da responsabilidade materna que suga cada célula do nosso ser, devemos entender que somos mulheres. Sim, mulheres que precisa e deve ter a consciência de que cuidar de nós msm não é egoísmo. Essa série, acabou com meu emocional ao msm passo que o restaurou. Foi uma enxurrada de lágrimas e esperança que acalentou meu coração e eu quis compartilhar, pra que mais meninas como eu tivessem a msm sensação. 💕😌
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PS*✨O elenco é incrível ( todo mundo merece todos os Oscar), a trilha sonora é maravilhosa, a fotografia é ótima, o roteiro, a cronologia é perfeita. Essa série é simplesmente tudo! 🎬♥️





Nota 10/10

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Carfanaum


Carfanaum (2018) é um filme libanês impressionante pela autenticidade e pela reflexão.
O nome, na tradução significa algo como bagunça, túmulo...
Sob o contexto bíblico, caos e milagre e o longa reflete isso o tempo todo, as cenas são confusas e realmente tem muito barulho, claro que proposital.
Zion o protagonista é uma criança muito expressiva e consegue sugar toda nossa atenção, com uma interpretação incrível. 
Logo nos primeiros minutos, a história espanca a gente com a cena que dá início a narrativa de zion, que tem 12 anos e está em um tribunal para processar os pais, por ter nascido.
Sim! O menino tem uma infância tão cruel que deseja não ter nascido e luta pra que os pais não tenha mais filhos, pra que a história dele não se repita.
A parte da brutalidade contida ali, vemos que as questões culturais estão muito enraizadas nesse enredo.
Na trama, zion que é uma criança tem responsabilidades de adulto, trabalha, cuidas dos irmãos mais novos. As pessoas, familiares ou não o tratam como adulto. Isso afeta negativamente seu comportamento, ele é triste, tem excessos de raiva e a linguagem dele não se encaixa a uma criança.
Além disso, ele não pode ir a escola, porque o pai preferem que ele trabalhe, pra ajudar com as despesas. (Qualquer semelhança com a maior parte das crianças brasileiras é mera coincidência)  
As questões morais e religiosas são bem diferentes das nossas, então é bem chocante ver, mas infelizmente a sabemos que é uma realidade.
Esse é o estopim de zion, pois ao ver sua irmã mais próxima, uma menina de 11 anos ser forçada a casar com um adulto, ele que tenta protege la a todo custo, se revolta e sai de casa por não conseguir impedir essa situação que é totalmente naturalizada pela aquela sociedade.
As questões culturais são tão fortes que ninguém contesta. A linha de tempo explica o porquê de tantas atrocidades e mudanças na vida daquelas pessoas. Assim, o filme que se passa no presente, conta com flashbacks do passado pra contextualizar as razões que levaram todos até ali.
Fora da ficção, o ator que faz zion, após fazer o filme conseguiu se refugiar noutro pais e finalmente pode ir à escola, hoje ele vive bem.  Reforçando a ideia de que a educação realmente salva.
No caso de zion a arte também. 


Nota 10/10
Disponível na amazon

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Boyhood

 




O filme americano, Boyhood (2014), é considerado um dos filmes mais longos da história do cinema. O longa levou 12 anos para ser produzido. A ideia do diretor era fazer com que a gente realmente imergisse na história do amadurecimento de Manson (personagem principal) uma criança de 6 anos no início das gravações. 

As mudanças comportamentais de Manson, são visivelmente relevante ao longo da jornada, mostrando o quanto é importante cada etapa da vida. Vemos no início do filme um garoto inocente e alheio a realidade e logo vamos acompanhando todo o processo de construção física e mental do personagem. 

Um fato bem curioso do filme, são os “marcadores de tempo”, que são sutis e vem representados pelo time tecnológico, música e aparelhos eletrônicos, o que pra mim, é muito simbólico, afinal na vida também temos alguns marcadores que nos fazem perceber a transição do tempo, marcadores físicos, como a puberdade, mas emocionalmente não conseguimos perceber com tanta facilidade as etapas.

Então, logo começamos a perceber a transição da infância para adolescência, que ressalta o dilema da formação para a vida adulta. Conflitos internos e externos são abordados. Levantando questionamentos sobre a influência do ambiente em cada fase de mudança individual. 

No filme, Manson é criado por uma mãe solo e um pai ausente e imaturo e isso afeta seu comportamento, percepção do mundo e relacionamentos. 

Interessante é acompanhar também o processo de evolução dos pais. Que mesmo adultos passam por essas mudanças constantes que atravessam significativamente tudo ao redor. Inclusive e principalmente a criação de Manson. 

Nessa experiência cinematografia, Boyhood, nos faz perceber o quanto ela nos aproxima da realidade, visto que mesmo com todas as particularidades individuais e interferências externas, nos conectamos com a história de Manson, não somente por ver o ator crescendo literalmente na tela, mas por que nos identificamos com as fases que ele vive. 

É uma história simples, sem plot twist. Na verdade é uma coletânea de pequenos momentos aparentemente sem proposito, que nos acolhe por que dá a sensação de que já vivemos aquela história. Por que olhando pra nossa infância conseguimos enxergar o que nos trouxe até aqui. 

Nos faz avaliar o quanto é necessário que cada criança vivencie suas fases por completo, para que todo o desempenho emocional e intelectual se desenvolvam no momento em que se está apto para isso, assim caracterizando cada momento para melhor entende lo. 


Nota 9/10 


terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Olhos que condenam

 


Eu me preparei psicologicamente a semana inteira pra assistir essa minissérie, pq eu sabia que ela acabaria com meu emocional.

Saio dessa tarde de domingo arrasada, com olhos inchados de tanto chorar e o coração dilacerado.

Ouvir falar de uma história é diferente de vê la representada com tantos detalhes.

É dura, real, atual e cruel.

Mas me sinto na obrigação de dividir essa sensação porque infelizmente é necessária.

Apesar de estarmos numa época que esse tipo de coisa não devia mais existir, pq já aprendemos tanto, já evoluímos tanto, já temos tanta informação ... pra mim, parece que não mudou muito.

Então, pra quem não entendeu ainda o que é SER NEGRO, em qualquer lugar do mundo. E pra quem já entendeu  e quer expandir a pequena bolha que vive, recomendo: vejam essa minissérie. É aquela história que eu chamo de NECESSÁRIA, pra que a gente reflita e não caia nos mesmos erros. 

Pra que a gente reflita e pare de condenar o que não conhecemos, pra que a gente reflita e sejamos melhores, com a gente mesmo e com o próximo. Tanto pra falar, pra escrever, pra disseminar sobre isso... Não consigo parar de pensar que se falássemos mais sobre essas coisas, nas conversas diárias, nos almoços de domingo, se falássemos mais... se entendêssemos a gravidade de tudo isso...Talvez houvesse um pouco de esperança de um dia esse tipo de história ser só história. 

***A lei é falha!

***O governo é falho!

***O sistema carcerário é falho!

***Racismo existe sim!

Of the central park 5.

#dicadefilme #cinema #series #netflix #papodecinefila


Nota: 10/10

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

I May Destroy You.

 

Quantas dores somos capazes de suportar, sem que isso nos destrua completamente?

Quantas violências sofremos ao longo da vida e nem nos damos conta?

Por não percebemos ou por simplesmente nem temos entendido. Quantas vezes? 

Eu não consigo nem somar. 

Quantas histórias vividas, ouvidas e vistas de perto, de longe em todo lugar o tempo todo... Vendo I may Destroy my (minissérie, 2020 da HBO ) muitas questões reais e importantes que se dispersam com o cotidiano me estimularam a escrever. 

Por que, pra mim, a minissérie tem uma missão maior do que somente expor a nossa vulnerabilidade, nossas dores, medos, traumas... pra mim, trouxe um novo olhar sob a resiliência. Esse novo mundo que se abre quando você finalmente entende e vê o que acontece ao seu redor. 

O que fazer quando vc finalmente entende o que tá acontecendo com vc mesma. 

Eu sei, eu sei...parece que é uma resposta fácil, mas não é. Garanto. Juntar os pedaços e reconstruir... Sem falar que, primeiro vc precisa encontrar os pedaços que vão se perdendo no caminho. 

Essa minissérie, baseada numa história real, escrita, dirigida e protagonizada por uma mulher negra que corajosamente rompe seus próprios conflitos pra mostrar através da sua arte como encarar seus próprios monstros, como ressignificar suas dores, realmente me tocou. 

Com um humor ácido, irônico, incrivelmente bem feito, num tom de revolta e reflexões, a trama me abraçou de um jeito que eu senti muito a necessidade de compartilhar essa sensação. Ela traz de forma sutil e áspera (e a cada cena, eu só pensava: _ Gênia!) Não somente a questão de violência de gênero, racismo, amizade, auto cuidado, lgbtfobia, vícios, mas tbm sobre a essa hiper conectividade em que estamos vivendo. Até que ponto isso é saudável e realmente necessário. 

Tive a impressão que os diálogos foram extremamente bem elaborados e não somente pra chocar, o que infelizmente vem acontecendo muito ultimamente no mundo cinematográfico. Me passou a sensação de ela está dizendo:

"Eu sei do que eu tô falando e tenho certeza que vc também sabe."

Por isso, fica aqui a recomendação, pra que mais meninas se sintam abraçadas e despertadas como eu me senti ao ver, I May Destroy You. 💕🎬


Nota: 10/10